quarta-feira, julho 21, 2004

I have a dream

Na verdade, não é bem um sonho, é uma teoria. Uma teoria a que gosto de chamar a Teoria da Chuva.
 
A questão é:
 
 “Quando chove, molhamo-nos mais correndo para um abrigo ou caminhando normalmente ao encontro deste?”
 
Esta pergunta, por inofensiva que pareça, começa a abalar os alicerces de toda a comunidade científica por esse mundo fora. Porventura, até mais do que a Teoria da Relatividade, por ter mais significado práctico.
 
Eu, ao contrário de Einstein, não me debrucei sobre este tema numa folha de papel rabiscando coisas como E = MC2 [1]. Fui ao encontro do problema, sentei-me num banco de jardim, num dia de sol, e pus-me a pensar:
 
1 - Se a chuva estiver parada no ar (em vez de respeitar a lei da gravidade, caindo inexoravelmente na terra) como me molho mais? Ficando parado no mesmo sítio, ou correndo para um abrigo? Até mesmo tu, caro leitor, podes afiançar que, correndo de encontro à água suspensa no ar, me molharia mais.
 
2 – Pensei também no vento que se possa fazer sentir no momento em que, estupidamente, me encontrasse parado no meio da rua num dia chuvoso. Será que o vento é assim tão importante? Por um lado, o vento atira-me chuva à cara. Como corolário desta afirmação, posso também ter a certeza que, para além de me atirar chuva à cara, também afasta outras gotas de chuva que, de outro modo, me atingiriam. Porque no limite, a quantidade de chuva que me é atirada à cara à força de chibatadas de vento, é a mesma que a quantidade desviada (e porque isto já está a ficar muito complexo), vou ignorar o efeito do vento. Será uma abordagem “Se tudo o resto se mantiver constante”, ou ceteris paribus para ti, caro recém-licenciado em economia que me estás agora a ler.
 
Nesta fase da minha linha de pensamento já me encontro cansado, mas, não me desviando da missão de cultivar o caro leitor, introduzo ainda mais factores:
 
3 – A gravidade! Como o atento leitor já se deve ter dado conta, o primeiro ponto desta teoria é ridículo. A chuva não está parada no ar! E, já agora, também não existe Pai Natal, nem a rena Rudolph. A chuva vem, quer gostemos ou não, ter connosco por força da gravidade. Estarei eu, ao correr, fugindo da chuva como o Diabo foge da Cruz, a evitar este fenómeno? Se o leitor respondeu que sim, PARABÉNS! Acabou de dizer, por outras palavras, que ao corrermos estamos a fugir à lei da gravidade, pelo que podemos também afirmar que, quando estou a correr, não há razão para que não consiga voar.
 
4 – O último dos factores. O mais pragmático, mais inescapável, mais inatacável dos factores! Um factor que tem deixado perplexa a comunidade científica, por ser facilmente comprovável por teste directo, mas difícil de traduzir numa simples fórmula como a de Einstein. Estou, naturalmente, a falar do factor “salpico”. O factor salpico consiste essencialmente no fenómeno que ocorre quando corremos sobre poças de água criadas pela chuva e acabamos, invariavelmente, com as calças molhadas até aos joelhos. É evidente que este factor pode ter maior ou menor relevância, consoante esteja a chover há mais ou menos tempo, consoante o piso onde estamos a correr, consoante o peso de quem corre, entre outros factores.
 
Depois de todo este esforço mental, ainda fiz o que os Americanos chamam de “extra mile”. Ou seja, fui ainda mais longe. Cheguei a uma fórmula que nos permite calcular o quão molhado ficará o leitor consoante os diversos factores.
 
Temos então:
 
Mo = VL + VC * Lg +  PL / PT
 
Onde:
 
Mo – Unidade de medida da “Molha”
VL – Velocidade do leitor
VC – Velocidade da chuva
Lg – Litros por gota de água
PL – Peso do Leitor
PT – Porosidade do terreno
 
Daqui verificamos facilmente que, quanto maior for a velocidade do leitor, ceteris paribus, maior será Mo, cqd[2].
 
 
Nota do blogger: continuamos abertos à recepção de fundos para a compra de equipamento que permita demonstrar esta teoria.
Nota do blogger2: Este foi o meu primeiro post. Se o quiser avaliar, use uma escala de 1 a 2, sendo 1 “Não tens mais nada para fazer?” e 2 “Vai trabalhar, malandro!”



[1] este artigo mostra como alguém se lembrou de explicar a teoria da relatividade ao ler uma entrevista com a Cameron Diaz (sem dúvida, com fotografias)

[2] Como queríamos demonstrar.

2 comentários:

Anónimo disse...

Que começo ...
Fico à espera do próximo.
Bravo

Rod disse...

Apesar de nunca me ter debruçado com tanta seriedade e profundidade sobre este interessante problema, anos e anos a andar sem chapéu de chuva levam-me a acreditar na tese inversa, embora de forma completamente empírica. Na verdade, a minha experiência afirma que me molho muito menos quando corro. Na verdade, depois de ano e meio a estudar este problema na Sorbonne (quer dizer, perto da Sorbonne...), e perante as excelentes condições de teste que Paris proporciona consistentemente durante o ano, cheguei à conclusão que, para a mesma distância, de patins ainda me molho muito menos que a correr. A minha pesquisa ainda se encontra em fase embrionária, pelo que não tenho um modelo científico para apresentar, mas alerto aqui para o perigo de deduzir a realidade a partir do modelo e não o modelo a partir da realidade. Segundo Michael Crichton (cf. o excelente artigo "Aliens Cause Global Warming": http://www.sepp.org/NewSEPP/GW-Aliens-Crichton.html), este é um problema emergente na epistemologia do último meio século, podendo ter levado graves falácias pseudo-científicas relacionadas com extraterrestres, inverno nuclear, fumo em segunda mão e aquecimento global.