quarta-feira, dezembro 31, 2008

O verdadeiro Cartão Único (CÚ)

No seguimento da posta anterior e embuído do Espírito Natalício característico desta época festiva, resolvi dar ao Estado Português algo que normalmente venderia: consultoria.

A ideia do cartão do cidadão não é nada má. Eu só acho é que a deviam ter levado um pouco mais à frente...

Imaginem o seguinte cenário (certamente num universo paralelo):

Nasce uma criança. Vamos chamar-lhe Zé Manel para ajudar a contar a história. 
A primeira coisa que os pais do Zé Manel fazem depois de sairem do Hospital é tratar do seu cartão único (ou de cidadão, como lhe quiserem chamar). 
Este cartão consiste de um vulgaríssimo cartão com banda magnética igual a um cartão de débito.
É-lhe atribuído um número (para simplificar, até pode ser o que até aqui chamamos de número de BI)
Desde esse dia até ao final da sua vida, o Zé Manel vai manter este cartão com o seu número de cidadão e utilizá-lo para tudo o que for necessário.

Quando crescer, vai ter que se inscrever nas finanças. O funcionário do departamento das finanças vai apenas pedir-lhe o seu número de cidadão e toda a informação relevante será inserida numa base de dados central.

Da mesma forma, quando o Zé Manel abrir uma conta numa instituição bancária, mais uma vez o funcionário perguntará: "E qual o número de cidadão ao qual quer associar a sua conta, Sr. Zé Manel?"

O mesmo se passará com números de segurança social, passaporte, boletim de vacinas, cartão de utente, cartão de eleitor, carta de condução e até o cartão do clube de vídeo lá do bairro, o cartão de pontos da Galp, da Repsol e da BP (o Zé Manel não é esquisito com os seus combustíveis) e o cartão de cliente da Sephora, da Zara e da Lanidor (onde o Zé Manel costuma ir comprar presentes para a namorada).

Toda esta informação é guardada na tal base de dados central, sendo que para actualizar a informação dessa base de dados no cartão será apenas necessário utilizar o cartão. Ou seja, quando o Zé Manel vai levantar dinheiro num ATM, ou quando utiliza o seu cartão para se identificar em qualquer sítio do país, a sua operação durará uns segundos mais, porque a máquina lhe diz: "Aguarde um momento enquanto o seu cartão é actualizado".

Como consequência, a carteira que a namorada do Zé Manel lhe ofereceu no Natal passado, foi um simples porta-moedas com lugar para 1 (um) cartão magnético.

Claro que ter toda a nossa vida, toda a nossa existência dependente de um cartão pode ser algo assustador ao princípio. 

Mas o Zé Manel nada teme. 

Até porque já lhe aconteceu no ano passado perder o dito cartão e bastou ir ao site www.cartaounico.pt, iniciar a sessão com o utilizador e palavra-passe que lhe tinham sido atríbuídos e seleccionar a opção "Solicitar novo cartão". Aliás, até já tinha tido que o fazer quando tinha 16 anos devido a ter estragado o seu cartão com um mergulho acidental na barragem do Alqueva, num fim de semana passado com os amigos.

Este site também já permitiu ao Zé Manel alterar o seu estado civíl quando se casou e mudar a morada (com efeito para todas as entidades em simultâneo) quando comprou a sua casa ali para a zona de Alfragide.

Pensem nesta história. 

A mim, o que entristece é ainda estarmos muito mais longe desta realidade do que deveríamos estar.

3 comentários:

Abade disse...

Olha que esta realidade não está tão longe como pensas!O cartão único do cidadão tem:
1. Número de Identificação Civil;
2. Número de Identificação Fiscal;
3. Número de Utente dos Serviços de Saúde;
4. Número de Identificação da Segurança Social.

Tem 4 números no mesmo cartão porque a Constituição proibe um número único de identificação do cidadão. Vá lá perceber-se os nossos "founding fathers" tinham medo do facismo.

Mas já agora, novidades interessantes:

1. O registo de nascimento ser realizado nos Hospitais é uma excelente ideia. Mas já está em vigor à cerca de um ano e meio.

2. A ideia de termos uma base dados centrais com todos os dados, impossivel por imperativo legal,já permite o cruzamento de todos os dados desde há cerca de 2 anos.

3. E já que estamos em inovações tecnologicas e estou a puxar a brasa à minha sardinha, cá vai o resto, temos uma série de facilidades que não existe em mais nenhum país da europa:

- Empresa na hora,
- Sucursal na hora,
- Associação na hora,
- Marca na hora,
- Marcas e patentes online,
- Digitalização integral dos processos judiciais,
- Documento único Automóvel,
- Informação empresarial simplificada,
- Registo predial online,
- Patentes online,
- (...)

E estas foram as novidades dos últimos 2 anos que me lembrei. A malta quando quer trabalha bem... ainda que com a ajuda dos consultores ;)

BMS disse...

Em relação ao comentário anterior:

Se já é possível o tal cruzamento de informação, porque é que tenho, por exemplo, que registar alterações de morada em diversos sítios?

Outra coisa: no cartão do cidadão, faltou-te o cartão de eleitor. Tb lá está.

A questão é: porquê parar aqui? E todos os outros cartões que nos enchem a carteira de forma inútil?

Outra coisa: a maioria das inovações que indicas são benéficas para empresas (empresa na hora, sucursal na hora, associação na hora, marca na hora, marcas e patentes online, etc.).

O problema é que normalmente as empresas têm pessoas que podem "perder tempo" a tratar da burocracia durante o seu horário de trabalho.

Já o comum dos cidadãos, sempre que tem que ir a uma repartição pública e até a algumas privadas (nomeadamente bancos), tem que tirar um dia de férias... ou faltar ao trabalho...

Porque essas repartições (excepção feita à loja do cidadão, mas existem tão poucas que as filas são sempre incálculáveis aos Sábados), que deviam existir para servir o cidadão, só estão abertas, normalmente, das 9 às 16.

A essas horas, as pessoas comuns estão a trablhar!

Anónimo disse...

O número de eleitor não está porque deixou de ser necessário, nem sequer algum dia deveria ter existido.
O cruzamento de dados ainda está aquem das necessidades mas está a evoluir.
O maior problema é em associar o cartão para fazer login nas diferentes entidades. Cada site fez a aplicação de forma diferente e complicaram um bocado isto. nem todos sabem informática (eu sei alguma) mas penso que o acesso deveria ser muito FÁCIL, muito RÁPIDO e muito INTUITIVO.
Para alguns gostava de dizer que não se deve criticar tudo, esta foi uma medida boa deste governo. Não é uma medida excelente porque já está atrasada e não é mais do que a obrigação. O que quero dizer é que este governo não é excelente, é apenas mediano, mas é o melhor de sempre desde a minha existencia. (nasci em 1974)
Abraço a todos!